om os sons marcantes do berimbau ecoando pelas ladeiras e praças, Niterói se tornou palco de um dos mais significativos encontros internacionais dedicados à capoeira. O município fluminense, conhecido por sua intensa vida cultural e belas paisagens, sediou a 14ª edição do Encontro Internacional de Capoeira, reunindo mestres, alunos e admiradores da arte de diversos países.
Durante o evento, que ocupou espaços emblemáticos da cidade como a Praça do Rink e a sede da Secretaria Municipal das Culturas, centenas de capoeiristas celebraram não apenas a prática do jogo, mas também os aspectos históricos, sociais e identitários que fazem da capoeira um patrimônio cultural imaterial da humanidade. Em rodas formadas por diferentes sotaques, estilos e tradições, a diversidade foi o fio condutor de uma programação que uniu técnica, música, história e resistência.
O encontro, idealizado pelo Mestre Paulão Ceará, já consolidado como referência no calendário internacional da capoeira, foi mais do que uma simples reunião de praticantes. Tornou-se um espaço de formação, intercâmbio e reconhecimento. Oficinas, palestras e rodas abertas proporcionaram experiências profundas entre veteranos da arte e jovens iniciantes, promovendo uma troca que ultrapassou fronteiras geográficas.
Além dos treinos e apresentações, um dos momentos mais marcantes foi a cerimônia de batizado e troca de cordas, rito de passagem que simboliza a evolução dentro da capoeira. Crianças, adolescentes e adultos receberam novas graduações diante de uma plateia emocionada, que aplaudiu cada gesto com entusiasmo. O brilho nos olhos dos participantes revelou a dimensão afetiva e transformadora que a capoeira exerce na vida de muitos.
Outro destaque foi a homenagem prestada a figuras históricas da capoeira fluminense, reconhecendo suas trajetórias de luta e contribuição para a preservação da arte. Com cânticos tradicionais e toques de atabaque, o evento também foi um tributo à ancestralidade afro-brasileira, reafirmando os laços da capoeira com as raízes africanas e com a história de resistência do povo negro no Brasil.
Em tempos de desafios sociais e culturais, o encontro em Niterói serviu como um lembrete da potência da capoeira enquanto ferramenta de inclusão, educação e transformação social. Nos gestos acrobáticos, nos versos dos cantos e nos olhares atentos dos mestres, havia uma mensagem clara: a capoeira é viva, pulsante e continua se reinventando sem perder sua essência.
Para além dos aspectos técnicos e festivos, o evento deixou um legado simbólico importante. Reunir pessoas de diferentes países em torno de uma arte brasileira mostra o alcance universal da capoeira e sua capacidade de construir pontes entre culturas. Niterói, com sua vocação para o acolhimento e para a arte, mostrou-se o cenário ideal para esse espetáculo de corpo, alma e história.
A capoeira, que nasceu da dor, da resistência e da luta por liberdade, hoje é celebrada como um dos maiores tesouros culturais do Brasil. E em Niterói, mais uma vez, ela provou ser muito mais que um jogo: é uma linguagem universal que une, emociona e transforma.